Agentes de saúde travam guerra diária contra a dengue na Capital
Por Redação Publicado 21 de fevereiro de 2017 às 14:01

Em época de alerta sobre os cuidados contra o mosquito Aedes aegypti, transmissor de doenças como a dengue, zika vírus e chikungunya, os agentes de saúde pública de Campo Grande têm enfrentado dificuldades para visitar residências da Capital. A equipe de reportagem do jornal O Estado acompanhou o trabalho dos agentes de saúde no bairro Pioneiros –região sul da cidade– e percebeu que são poucos os moradores que abrem as casas para receber as orientações dos servidores. Rotina que, conforme os agentes de saúde, repete-se em diferentes bairros.

Na rua Luiz Pereira, por exemplo, uma moradora se negou a abrir o portão para os agentes de saúde sob o argumento de que não conseguia prender seus cães. Segundo Odenir Cintra, 38, supervisor- -geral dos agentes de saúde, essa é uma das desculpas mais usadas pelos moradores.

“Os moradores usam muito esse artifício do cachorro, dizendo que só o esposo ou o filho mais velho que prendem, que não têm controle do cachorro, e aí fica uma pendência. Temos de agendar outro horário para recuperar essa visita”, explicou Odenir.

Ação de criminosos e ausência de moradores dificultam trabalhos

Além dessa dificuldade, há situações em que o morador afirma temer assaltos, tendo como base notícias sobre pessoas que se aproveitam da importância do papel do agente de saúde para cometer crimes.

“Isso é devido aos incidentes de pessoas mal-intencionadas usando uniformes, que já até roubaram nossos pontos de apoio levando mochila e camisetas, e usam das vestimentas para entrar nas residências e praticar assaltos. Em alguns bairros, tanto na área central como bairros de pessoas com poder aquisitivo mais alto, as empregadas domésticas já são orientadas a não abrirem [a porta] nem para o agente de saúde. O servidor então solicita a presença do supervisor, que vem com moto oficial, o morador certifica a veracidade do servidor e a gente entra no imóvel”, completou Odenir.

De acordo com supervisor, a nova configuração familiar é outro motivo de dificuldade dos agentes para entrar nos imóveis. “Hoje a esposa também se ausenta de casa para trabalhar, e os filhos ficam na escola o dia todo. Assim, todo mundo se ausenta da casa. Esse é um dos motivos de grande pendência para a gente. Para atender a esses casos, nós temos de articular horários mais flexíveis do servidor, após as 17h, por exemplo, ou até mesmo no sábado no período da manhã, fazendo uma inversão nos horários do agente”, esclareceu.


Mato alto é risco para os servidores

Sandra Regina Gomes dos Santos Reis, 39, supervisora de área no Projeto de Integração dos Agentes de Saúde, é responsável por visitas em comércios, escolas, indústrias, terrenos baldios, borracharias e prédios públicos para conscientizar sobre o risco de endemias em Campo Grande. Segundo ela, há limitações que prejudicam o trabalho do agente.

“Em terrenos baldios, por exemplos, se houver muro alto e cerca com cadeado, não temos como entrar. Se o terreno está com o mato é alto, não podemos entrar, colocando em risco o agente, já que não sabemos o que ele pode encontrar ali. Nesses casos, registramos um documento com o número do imóvel anterior e posterior ao terreno e encaminhamos ao CCEV [Centro de Controle de Endemias Vetoriais] para procurarem o proprietário do imóvel pedindo que limpem o local”, explicou Sandra.

Conforme a supervisora, nos terrenos baldios em que o mato está baixo, é feita a vistoria na área em busca de possíveis focos para o mosquito. “Quando encontramos algum foco, fazemos o descarte da água, e colocamos os objetos em sacos de lixo para a coleta de lixo levar”, esclareceu. (NL)


Larvas são analisadas em laboratório

Quando são encontradas larvas do Aedes aegypti em algum recipiente com água acumulada nas residências inspecionadas pelos agentes de saúde, o procedimento adotado é diferenciado.

“Fazemos de tudo para eliminar a água do depósito, mas se for uma caixa d’água grande, por exemplo, não vamos conseguir descartar aquela água, então fazemos o tratamento químico. Colocamos o pó na água fazendo com que a larva não desenvolva para o mosquito. O pó químico não mata, apenas inibe o desenvolvimento da larva”, ressaltou a supervisora Sandra Regina Gomes dos Santos Reis.

Exemplo que ilustra essa situação são os recipientes usados para armazenar água da chuva, geralmente para limpeza de quintal. Nesses casos, a água não precisa ser descartada: ela passará pelo processo de tratamento químico para que as larvas não se desenvolvam.

Em alguns casos, como na época de pesquisa do LIRAa (Levantamento Rápido do Índice de. Infestação por Aedes aegypti), as larvas do mosquito são coletadas e encaminhadas ao laboratório no CCEV para confirmar se são, de fato, do mosquito transmissor da dengue.

“Fazemos a coleta das larvas com os tubos e o morador assina um termo de orientação. Depois, preenchemos um documento e encaminhamos para o laboratório. Lá eles fazem a leitura da larva para analisar se é ou não do Aedes e no mesmo dia já sai o resultado. Quando o morador pede um retorno, voltamos à casa e dizemos se a larva era do mosquito ou não”, contou a supervisora à equipe de reportagem.

Casos de reincidência no combate ao mosquito resultam em multa
Quem não cuida do quintal ou deixa para se importar apenas quando o agente de saúde bate à porta deve ficar atento. Após o terceiro caso de reincidência de coleta de larvas no imóvel, a vigilância sanitária é acionada e o morador é multado.

“Muitos moradores não entendem que o termo de orientação não é a multa. O agente de saúde não tem poder de multar, apenas orientamos. Já em caso de reincidência, fica mais complicado, a vigilância é acionada e eles sim podem dar a multa”, ressaltou a supervisora Sandra Regina. (NL)

Fonte: O Estado/Nilce Lemos